Infraestrutura: o pesadelo para quem deseja investir em Mariana

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Infraestrutura: o pesadelo para quem deseja investir em Mariana

Há anos a pauta da diversificação econômica vinha sendo colocada em discussão na cidade de Mariana, um lugar que, como todos sabem, é extremamente dependente da mineração. No entanto, com a crise das commodities, em 2014, e com o rompimento da Barragem de Fundão, em 2015, o tema se tornou ainda mais necessário, tanto por conta da população, quanto de outras localidades, que têm interesse em saber como que o município tem lidado com os problemas vindos da maior catástrofe ecológica do país.

Só que muito pouco andou em matéria de diversificação econômica em Mariana nos últimos anos e em boa parte por conta de questões políticas locais e por causa da infraestrutura, que é um grande pesadelo para quem deseja investir na cidade.

Vamos entender um pouco mais sobre estes pontos.

“Politicagem” e falta de visão sistêmica da gestão pública

No final do mês de agosto de 2019, a Fundação Renova, juntamente com a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), parte do poder público, ACIAM/CDL e membros da sociedade de Mariana, se reuniram para discutir os entraves e soluções para fazer a economia marianense andar.

Durante o encontro, foi colocado que a “Politicagem e falta de visão sistêmica da gestão pública” seria o maior gargalo para o desenvolvimento e diversificação econômica da cidade. De acordo com os participantes, este problema ganhou foco por consideraram que em Mariana é dado muito destaque para questões políticas em detrimento de questões técnicas. Tudo sempre associado com uma possível falta de visão sistêmica do poder público, de acordo com o grupo.

De acordo com Júlio César, ex-secretário de desenvolvimento econômico de Mariana, que estava presente nesta reunião, praticamente nada mudou de lá para cá.

É urgente e imediata a necessidade de investimento estratégico no fortalecimento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e na diversificação econômica do município, com a criação do Distrito Industrial/Comercial

Para Carlos Eduardo da Gama Torres, doutor em economia pela UFMG e pesquisador de Infraestrutura, Desenvolvimento Regional e Transportes, a diversificação e desenvolvimento econômico deveriam partir de outro princípio.

Não acredito que a melhor opção para Mariana seja investir em uma área industrial ou algo do gênero, mas, atacar os bolsões de pobreza, identificar as famílias em risco alimentar e vulneráveis a violência e melhorar o ensino básico do município.

Os grandes problemas de infraestrutura de Mariana

Problemas com o fornecimento e com a qualidade da energia elétrica, altos preços de aluguel praticados por donos de imóveis e questões ligadas ao saneamento básico e à logística rodoviária são alguns dos entraves econômicos mapeados pela FIEMG, pelo empresariado local e até por pesquisadores em Mariana.

Fornecimento e Qualidade de Energia Elétrica

Segundo Amarildo Pereira, Diretor Comercial da ACIAM/CDL de Mariana, há algum tempo a Samarco construiu uma linha de transmissão de energia na região, na época da expansão do Programa Quarta Pelotização (P4P). Porém, essa obra parece não ter favorecido à população de forma geral.

Diversos distritos, como o de Bandeirantes, sofrem com as paralisações da rede elétrica, tendo, inclusive, conversado a respeito com o vereador e, hoje, prefeito interino, Juliano Duarte, a respeito. Além disso, nomes ligados à atração de novas empresas para a região já apontaram que alguns negócios desistiram de trazer parte da sua produção para Mariana por causa da má distribuição de energia elétrica.

Aqui vale salientar que no final de 2015, o então prefeito, Duarte Junior (irmão de Juliano Duarte), disse, em uma reunião na Conferência do Clima (COP21), em Paris, que nunca havia pensado em incentivar a instalação de empresas que trabalham com energias renováveis” em Mariana, de acordo com uma notícia publicada pelo site DW. 

Depois disso, mesmo conhecendo os exemplos apresentados na conferência, nada relacionado a isso foi feito na cidade.

Saneamento Básico

Tanto Amarildo quanto Júlio César concordam que o saneamento básico é um dos maiores problemas enfrentados por Mariana hoje, tanto pela população, quanto para investidores e empresários que desejam colocar recursos na cidade.

No Censo Demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, foi visto que somente 78% dos moradores de Mariana contavam com esgotamento sanitário adequado. Para piorar, segundo um levantamento feito em 2016, o índice de internações devido à diarreias era de 0.8 para cada 1.000 habitantes.

Estes problemas indicam a má distribuição e a falta de um tratamento de qualidade da água. Pontos que impactam diretamente a atração de empresas que dependem de um bom saneamento para manter sua produção em alinhamento com as regras básicas de segurança ambiental.

Logística Rodoviária

A distância de Mariana da BR040, onde existe um maior tráfego de escoamento de produção no Estado, também se apresenta como um problema para o desenvolvimento econômico da cidade.

Mas isso não quer dizer que não existam saídas para o distanciamento físico da cidade para a 040. Um dos caminhos para resolver isso poderia ser através da reativação da linha férrea que liga Mariana até Miguel Burnier, facilitando, assim, o escoamento da nossa produção.

Especulação imobiliária

Em 2017, uma pesquisa feita pelo site Brasil Financeiro e publicada pelo Mais Minas, apontou Mariana como sendo a cidade mais cara para morar em Minas Gerais. Algo que continua valendo até 2021 e tende a piorar, principalmente por causa da especulação imobiliária.

Especulação imobiliária é um problema de crescimento da população flutuante que acontece sem que estejamos preparados para isso. Lembrando que agora isso deve ser um problema recorrente, já que teremos grandes obras por períodos maiores nas mineradoras.

Com a volta das operações da Samarco em Mariana, o valor dos aluguéis já tem subido no município, tornando o custo de vida, e ao mesmo tempo com mão de obra qualificada, mais altos na cidade. Isso, em um período em que a UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), que tem um campus em Mariana, está fechada, diminuindo a quantidade de alunos morando na cidade. 

No momento em que a pandemia for de fato controlada no país, toda a massa de alunos da universidade criará uma demanda ainda maior por moradia em Mariana, que também vê seus aluguéis inflacionados por conta dos funcionários da Fundação Renova, que atua na cidade e paga salários bem acima da média praticada na região.

A saída via transformação digital

Na visão de Carlos Eduardo da Gama Torres, “um ponto primordial [para um bom andamento econômico de Mariana] é desenvolver um plano de desenvolvimento integrado preservando patrimônio histórico e natural”, algo que pode ser feito mais facilmente com ajuda da transformação digital e auxílio de empresas de base tecnológica que tem menor (ou quase nenhum) impacto no meio ambiente.

Ainda sobre isso, segundo a FIEMG, “há a possibilidade de trabalhar o setor de Tecnologia da informação em Mariana por meio do incentivo ao movimento de empresas e startups da cidade e região”, apesar de até o momento nenhum movimento ter sido feito por parte do poder público local para isso.

Como comunidade de inovação local, é papel do Valin ter uma visão clara sobre os problemas da região, ajudar a apresentá-los para a população, e fazer isso sem deixar de pensar em soluções que sejam factíveis com o nosso contexto.

E você, o que pensa sobre os problemas de infraestrutura de Mariana? Deixe seu comentário a respeito aqui mesmo no post.

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