Economia dos bicos, uberização do trabalho, Economia sob demanda, no final, tudo isso significa a mesma coisa: Gig Economy.
Bastante utilizada pelas empresas do Vale do Silício, a Gig Economy vinha trazendo consigo diversos questionamentos sobre sua verdadeira eficácia nos últimos anos, porém, foi só com a chegada da pandemia do novo coronavírus que todo o verniz positivo deste modelo econômico caiu por terra de vez.
Mas será que a COVID terá decretado o fim da Gig Economy? Claro que não. Porém, é preciso entender que a uberização de ontem não terá a mesma forma (e talvez nem a mesma mão de obra) no futuro.
O papel do Estado na Gig Economy
Apesar de já termos explicado em outro post aqui do blog o que é a Gig Economy, a verdade é que esse termo não é conhecido pela vasta maioria das pessoas.
De acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2019, o Brasil tem 134 milhões de usuários conectados à internet. É um número superior a metade da população do país, porém, ainda exclui boa parte das pessoas, principalmente entre os mais pobres, já que, segundo a mesma pesquisa, o nível de acesso entre os que ganham menos de um salário mínimo é 61%.
Ou seja: para a maioria dos brasileiros, ainda não existe nem entrega e nem emprego no iFood. Não tem nem internet, nem dinheiro, nem asfalto para chamar um Uber.
Logo, o sucesso ou o fracasso de empresas que dependem da Gig Economy — e aqui me refiro não apenas às bigtechs, mas também aos restaurantes, mecânicos e seguradoras que dependem hoje deste mercado — dependerá cada vez mais do Estado desenvolver corretamente suas atividades, principalmente àquelas ligadas ao cuidado com infraestrutura e educação da população.
Além disso, caberá aos governos fiscalizar e criar sistemas de controle para evitar a precarização das vagas ofertadas pelas plataformas digitais.
As bigtechs irão dominar o jogo?
Com mais pessoas trabalhando remotamente e (espero) respeitando o distanciamento físico, a demanda por soluções na nuvem cresceu drasticamente durante a pandemia. De acordo com um levantamento da Gartner, cerca de 70% das empresas hoje utilizam algum tipo de serviço de Cloud Computing, indo desde ferramentas on-line (como as do Google Drive ou Gmail, até armazenamentos em servidores da Amazon).
Com isso, grandes empresas como Microsoft, Amazon e Google, ganharam ainda mais poder, mesmo durante a pandemia, já que elas são as grandes detentoras deste aparato tecnológico de armazenamento na nuvem, e, em alguns casos, as donas das principais ferramentas que funcionam on-line, seja um e-commerce ou uma simples caixa de e-mail.
Se em um cenário pré-pandemia, concorrer contra alguma destas marcas já era algo complicado, no pós-pandemia podemos esperar uma luta ainda mais desigual.
Transformação e inovação digital das PMEs
Segundo o Índice de Transformação Digital da Dell Technologies 2020, cerca de 87,5% das empresas instaladas no Brasil realizaram alguma iniciativa voltada à transformação digital no ano passado. Estes dados apontam aquilo que é possível perceber em diversos lugares: agora os pequenos empresários começam a jogar de igual para igual dentro do campo digital.
E com todo mundo entregando por delivery, recebendo pedidos e orçamentos via internet (ainda que seja pelo whatsapp) e aceitando pagamentos por cartão ou até mesmo transferências digitais, o que sobra é o caminho rumo à inovação, seja ela dentro ou fora da Gig Economy.
Gig Economy nas cidades do interior
Com o início da pandemia, houve uma verdadeira corrida pelo que a Fast Company chamou de Zoom Towns (“Cidades Zoom”): cidades do interior com uma boa conexão de internet que permita que trabalhadores remotos possam desenvolver suas atividades on-line, fora dos grandes centros urbanos.
Aqui vale dizer que apesar da Gig Economy no Brasil ser conhecida como “uberização”, o fato é que não é apenas de motoristas e entregadores que vive este modelo de negócios. Diversas plataformas oferecem também trabalhos temporários para programadores, designers, fotógrafos e redatores, pagando, na maioria das vezes, bem mais do que o valor de uma corrida de carro ou entrega de bike.
Em cidades do interior com boa conexão de rede, estas vagas on-line podem significar tanto a atração de novos moradores para a região, como mais oportunidades para os habitantes locais, que, via internet, poderão contar com uma cartela mais ampliada de trabalhos.
Apesar de escancarar os problemas da precarização do trabalho e do controle das bigtechs no mercado, a pandemia também fez surgir novas oportunidades para quem soube ou conseguiu aproveitar a onda de transformação digital à qual todos fomos submetidos.
Agora, para um Brasil pós-pandemia, a grande questão será entre o mundo digital e o Estado. Estarão as cidades e as leis preparadas para seguir nesta realidade ainda mais conectada, ou seguiremos como se nada tivesse acontecido entre 2020 e 2021?
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