Em 2020, o Brasil avançou quatro posições no Índice Global de Inovação (IGI) na comparação com 2019, indo da 66ª posição para a 62ª, em um ranking que abrange 131 países. Esta foi uma boa notícia para o mercado de inovação local, que ainda vê um enorme caminho para seguir no país.
O interesse pelo tema foi tanto, que as buscas no Google por termos relacionados à inovação subiram até 350% no último ano.
De olho nisso, resolvemos criar um mini guia explicando como construir uma comunidade de inovação, seja em sua empresa, cidade ou universidade.
Vamos lá!
Hub ou Cluster?
A primeira parte para criação de uma comunidade de inovação é entender se ela fará parte de um hub ou de um cluster.
De acordo com o Conselho Britânico de Economia Criativa, hubs são locais específicos com área de trabalho acessível, suporte e espaço de exposição, networking ou vendas para empreendedores criativos. Estes locais atuam como o ponto central de uma rede mais ampla.
Coworkings, laboratórios de inovação de universidades e espaços como o do SEED, em Minas Gerais, ou do Cubo, em São Paulo, são bons exemplos de hubs.
Já os clusters tem uma pegada mais ampla. Eles são definidos por um arranjo de negócios, com recursos relacionados ou dependentes, agrupados em um bairro ou parte de uma cidade, embora, em alguns casos, o cluster possa ser uma rede virtual que depende de uma boa conectividade com a Internet em vez de proximidade física.
O APL Eletroeletrônico de Santa Rita do Sapucaí e o Vale dos Inconfidentes, a comunidade de inovação mais promissora de Minas, assim como o Porto Digital, no Recife, são exemplos de clusters.
Como criar uma comunidade de inovação dentro de um hub
Entendendo que sua comunidade funcionará em um hub, podendo, inclusive, ser específica de uma entidade educacional ou uma empresa, vamos ao guia para esse tipo de agrupamento.
Identidade
Primeiro é importante definir o que é a comunidade, porque ela existe e o que ela representa.
Esta formação da identidade da comunidade influenciará todas as outras partes do projeto, desde a cultura dos integrantes, suas crenças e até o tipo de eventos e produtos que poderão sair dali.
Experiência
Como você deseja que os membros e participantes percebam a comunidade? Este é o ponto que deve ser elaborado com a experiência.
Como a identidade será traduzida através das atividades? Como será feita a criação de valor para integrantes do grupo? Como são identificadas as pessoas que deveriam ser parte da comunidade?
Ao responder estas perguntas você poderá encontrar um formato para a experiência da sua comunidade.
Estrutura
Aqui é a parte administrativa. Como será feita a operação da sua comunidade?
Planeje a organização, a governança, o financiamento, os canais e as plataformas de gestão de informação do grupo para que a comunidade não se torne obsoleta ou morra na praia logo cedo.
Construindo comunidades de inovação dentro de clusters
Construir uma comunidade de inovação dentro de um cluster é uma tarefa mais complicada e que demanda a sinergia entre diferentes atores. No entanto, isso não é uma tarefa impossível.
Empreendedores
Antes de mais nada é preciso mapear os empreendedores da região.
Existem pessoas investindo em inovação, tecnologia e pesquisa em sua cidade e nos municípios vizinhos para justificar a comunidade? Se a resposta for positiva, uma das etapas da criação já está feita. Agora, se ainda não existe este tipo de empreendedor no lugar (algo comum em cidades pequenas), talvez seja importante pesquisar e identificar o motivo desta falta antes de seguir com o planejamento.
Mão de obra
Universidades e escolas técnicas são verdadeiros fomentadores de mão de obra para a inovação local. Portanto, se a sua região conta com pelo menos um destes itens, pode ficar mais fácil construir a sua comunidade de inovação. Mas atenção: contar com uma boa oferta de educação não quer dizer necessariamente que haverá mão de obra qualificada na cidade.
Como já postamos por aqui, Ouro Preto, mesmo com uma excelente universidade pública e um instituto federal de educação, enfrenta a falta de pessoas qualificadas para diversas áreas de inovação, e por isso acaba trazendo pessoas da capital para ocupar cargos na cidade.
Em alguns casos, a grande oferta de empresas e, com isso, a própria competitividade local, pode ajudar na atração e aperfeiçoamento da mão de obra local.
Mercado
Identifique o mercado da sua comunidade.
Existe mercado interno para o que é produzido ali, ou as empresas dependerão de compradores externos?
Startups de Miningtech, como as que operam na região de Ouro Preto e Mariana, contam com um mercado regional bastante forte, no entanto, outras (como as da área de fintech), precisam buscar seus clientes em regiões maiores e mais distantes para garantir sua existência.
Investidores
Existem investidores em seu cluster? Este é ponto importante para se pensar.
Sem a cultura de investimento em tecnologia local, fica bem mais difícil dar tração para projetos da comunidade. Por isso, tenha certeza de que as PMEs, indústrias e agentes locais costumam investir em inovação em sua cidade.
Agentes
SEBRAE, universidades públicas e federações como FIEMG e FIESP são bons exemplos de agentes de inovação que costumam agir nas cidades. Portanto, fique de olho se existe a presença de algum deles em seu município e se ele dialoga com os propósitos da sua comunidade.
Governo
Por fim, o Estado. Como o governo federal, estadual e, principalmente, municipal interage com a sua comunidade?
Algumas prefeituras (principalmente as de cidades do interior) não contam com pessoal especializado, ou às vezes interessado, em demandas do segmento de inovação. Por isso é importante entender o quanto o seu cluster é apoiado pelas entidades locais do governo.
Busque por pessoas à frente das secretarias que poderiam auxiliar a comunidade, com a criação de leis de incentivo e políticas públicas que desenvolvam a inovação na cidade. Vejam como elas podem ajudar na conexão dos stakeholders relacionados ao seu projeto.
Construir uma comunidade de inovação não é uma tarefa nada fácil, porém, em um cenário onde a tecnologia e a transformação digital tem segurado parte da economia, pensar neste tipo de arranjo em prol da inovação pode ser algo bastante importante para garantir a sobrevivência do seu negócio e até mesmo da sua cidade em um futuro cada vez mais conectado.
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