
Publicado em 2018 pela editora Simon & Schuster, Bullshit Jobs é uma das obras mais provocadoras da última década sobre o mundo do trabalho. Escrito pelo antropólogo anarquista David Graeber — também conhecido por sua atuação no movimento Occupy Wall Street —, o livro parte de uma hipótese inquietante: uma grande parte das pessoas está empregada em trabalhos que consideram, no fundo, completamente inúteis.
A expressão bullshit jobs (“trabalhos de m#@rda”) refere-se, segundo o autor, a empregos que existem apenas para cumprir uma função aparente, sem produzir nenhum valor real para a sociedade. São cargos cuja eliminação não causaria prejuízo algum — pelo contrário, poderia até melhorar o funcionamento das organizações. O mais alarmante, para Graeber, é que esses empregos são mais comuns em setores altamente burocratizados, como corporações financeiras, agências governamentais e grandes instituições de serviços.
Graeber classifica esses trabalhos em cinco categorias principais: lacaios (cuja função é fazer alguém parecer mais importante), capangas (como lobistas ou advogados corporativos), consertadores (que resolvem problemas criados por outros departamentos), preenchedores de formulários e supervisores sem função. São empregos que, muitas vezes, se mantêm por inércia institucional, conveniência política ou lógica de controle — não por necessidade real.
Um diagnóstico incômodo (e necessário)

Bullshit Jobs nasceu de um ensaio escrito por Graeber em 2013 para a revista Strike!, que viralizou rapidamente e gerou milhares de comentários de pessoas relatando experiências semelhantes. O sucesso do texto levou à pesquisa mais aprofundada que culminou na publicação do livro. A recepção da crítica foi ampla: a Vox destacou a ousadia de Graeber em tocar numa ferida aberta do capitalismo tardio; o The Guardian o descreveu como “um livro radical, que põe em xeque nossas crenças mais básicas sobre o valor do trabalho”.
Mas o livro vai além da denúncia. Graeber relaciona a proliferação dos bullshit jobs a uma forma de “violência espiritual”, em que milhões de pessoas são forçadas a dedicar boa parte de suas vidas a tarefas sem sentido, sob pena de perder dignidade, renda e pertencimento. Para ele, isso representa um fracasso profundo das nossas estruturas econômicas e sociais.
Por que administradores públicos precisam ler Bullshit Jobs
Para quem atua no setor público, a leitura é ainda mais urgente. Em instituições públicas, muitas vezes marcadas por rigidez organizacional e excesso de normas, é fácil cair na armadilha de manter estruturas e cargos que servem mais à máquina administrativa do que ao bem-estar coletivo.
Graeber desafia os administradores públicos a olharem criticamente para seus próprios sistemas: há clareza sobre o propósito dos cargos? Há formas mais eficientes de prestar serviços públicos? Estamos priorizando as reais necessidades da população ou apenas cumprindo protocolos?
Ao provocar essas reflexões, Bullshit Jobs se torna uma ferramenta poderosa para gestores que desejam promover inovação, eficiência e, principalmente, sentido no serviço público. Em um momento de crise de confiança nas instituições, pensar o trabalho com propósito é mais do que relevante — é essencial.