Durante séculos, a região central de Minas foi o berço da exploração mineral que deu nome ao estado, gerando gigantescas cicatrizes na sociedade, que se mantêm até os dias de hoje. No entanto, sob uma ótica otimista, o caldeirão cultural criado pela corrida da mineração, ainda no período colonial, fez com que as primeiras capitais das Gerais se tornassem lugares únicos, propensos a novas descobertas tanto nas ciências, quanto nas artes.
Hoje, observamos, nessa região a qual também chamamos de Vale dos Inconfidentes, o surgimento de novas possibilidades de vida para além do extrativismo, principalmente por meio da produção tecnológica contemporânea. Porém, sabemos que é preciso nos posicionar mais explicitamente quanto ao nosso desejo em direcionar a sociedade para essas possibilidades se quisermos ter um futuro mais igualitário, próspero e ecologicamente seguro, aqui mesmo, no berço do nosso estado.
Em busca desse futuro, definimos, através deste manifesto, a nossa missão de longo prazo e os princípios que norteiam o Vale dos Inconfidentes, rumo ao ano de 2040.
Nossa missão para o ano de 2040 na região
- Alcançar a sonhada diversificação da economia regional — hoje, ultra dependente da mineração —, através da pesquisa científica, além da produção e venda de novos produtos e serviços tecnológicos;
- Tornar a região histórica de Minas Gerais um local reconhecido pela criatividade e inovação na execução dos serviços tradicionais;
- Capacitar as moradoras e moradores da cidade, através do devido letramento digital, para que possam ter um uso crítico da internet, com real conhecimento sobre suas possibilidades, por meio do acesso significativo ao cyberespaço e conhecimento emancipador a respeito da rede;
- Contribuir para que as cidades da região dos inconfidentes se tornem lugares ecologicamente seguros, que colocam a defesa do meio ambiente e das pessoas no centro de suas decisões;
Nossos princípios
- Entendimento sobre inovação
O termo inovação não deve ser relacionado estritamente com empreendedorismo ou mercado;
- A inovação pode vir de qualquer lugar
A descoberta e a produção de soluções inovadoras pode acontecer não apenas na academia, mas também em empresas, lan houses, coworkings e dentro das casas das pessoas;
- Academia e sociedade
Os ambientes acadêmicos públicos devem estar cada vez mais atentos e preparados para receber e atender a comunidade interessada em produzir, testar e validar novos produtos e serviços;
- Educação não é mercadoria
Escolas, institutos e universidades públicas devem, cada vez mais, incentivar programas e ações que visem ao fomento à criatividade e à pesquisa sem a necessidade de um alinhamento direto com as principais demandas do mercado local.
- Divulgação científica
É importante que os institutos e universidades públicos envidem esforços para a realização de projetos cujos resultados sejam divulgados de forma ampla.
- Estado empreendedor
O poder público municipal deve estar preparado para demandar e adquirir soluções tecnológicas dos ambientes acadêmicos públicos de sua região;
- Mais transparência da CFEM
O ecossistema de inovação deve se posicionar como um dos principais atores responsáveis por cobrar e oferecer mecanismos de transparência e aplicação dos recursos oriundos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM, principalmente quanto à sua utilização no “desenvolvimento científico e tecnológico” e no “desenvolvimento do ensino, especialmente na educação básica pública em tempo integral”, fazendo com que a região minerária alcance não só a diversificação econômica, como também, níveis melhores em seu sistema público de educação.
- Indústria para além do extrativismo
A indústria extrativista da região dos inconfidentes, através de repasse direto aos agentes do ecossistema de inovação, deve investir no fomento à produção tecnológica, com foco na ampliação e diversificação de todos os tipos de mercado, incluindo, mas, sem priorizar, aqueles envolvidos em sua própria cadeia produtiva;
- Estado e a infraestrutura digital
O poder público deve ser o responsável por cuidar da infraestrutura necessária para que pessoas de qualquer localidade tenham acesso à informação através da internet de qualidade;
- Logística de mobilidade
O poder público deve cuidar da infraestrutura viária responsável por levar e trazer o que é comprado e vendido através da internet, proporcionando um maior acesso à produtos para os consumidores e a novos mercados para quem empreende;
- Políticas para além da isenção
O governo municipal precisa colaborar, através de articulações e elaboração de políticas públicas que facilitem o crescimento, atração e a permanência de empresas de tecnologia com capacidade de empregar um grande número de pessoas da própria cidade;
- Modernizar o passado
Devemos utilizar novas tecnologias e novas formas de comunicação digital para lançar luz sobre a história dos povos originários e dos escravizados vindos para a região dos inconfidentes, com foco em suas lutas anti-coloniais;
- Inovação e qualidade de vida
As novas tecnologias podem e precisam ser utilizadas para ampliar a qualidade de vida dos moradores sem que haja impacto negativo na preservação do patrimônio histórico da região;
- Pluralidade real
Toda a cadeia de produção tecnológica, incluindo a etapa de pesquisa, precisa estar alinhada contra a misoginia, o racismo, a homofobia, o capacitismo e a segregação de qualquer grupo que foi historicamente colocado à margem das principais decisões;
- Casa, comida e educação
Entendemos que não existe produção inovadora sem a oferta de moradia, educação e alimentação de qualidade para todos os moradores de uma cidade.
- Plataformas e trabalho justo
Acreditamos que o poder público municipal deve pensar, criar e promover mecanismos legais e tecnológicos que impeçam ou dificultem a precarização da mão de obra local por plataformas e empresas digitais — com destaque para aquelas de fora da cidade —, podendo, inclusive, utiizar e fazer valer de artifícios como o cooperativismo e a economia solidária digital;
Saiba mais sobre o Vale dos Inconfidentes e o ecossistema da região