No começo dos anos 2000, um aluno do curso de administração da UFSJ teve uma ideia que, a princípio, não poderíamos chamar de inovação disruptiva: vender plataformas de lojas virtuais. Plataformas essas que, vale lembrar, já existiam por aqui em terras tupiniquins há alguns punhados de anos.
No entanto, os problemas encontrados pelos clientes de Evanil Paula ao lidar com as representantes dos cartões de crédito e os bancos, responsáveis por liberar a venda por meio de boletos, fizeram com que o ouro pretano criasse a Gerencianet, uma das principais fintechs (tipo de empresa de pagamento) do país e uma das maiores empresas de tecnologia da região histórica de Minas.
Mas como uma grande marca de tecnologia digital pode surgir e, principalmente, se manter em uma pequena cidade como Ouro Preto? Como a Gerencianet trouxe a disrupção para uma cidade tão tradicional como a antiga Vila Rica?
É o que vamos descobrir por aqui, e, o melhor, sem precisar ficar contando toda a história da empresa.
Gerencianet e a inovação disruptiva nas pequenas cidades
Para quem ainda não conhece a Gerencianet, indicamos assistir ao pequeno documentário publicado em seu canal do Youtube, onde é apresentada toda a história do negócio e o que levou o seu fundador a criá-lo, ou a entrevista que fizemos com o CEO durante o nosso evento, o Valin Week.
Aqui no blog a nossa ideia é falar sobre os impactos positivos que o surgimento de negócios disruptivos como estes podem ter nas cidades, principalmente as do interior. E é neste ponto que vamos focar, observando o caso do que aconteceu na charmosa Ouro Preto.
Entendendo o que é, de fato, inovação disruptiva
Para entendermos melhor o poder da inovação disruptiva nas pequenas cidades é preciso entender o que, de fato, é essa tal de inovação disruptiva. Um termo que foi extremamente utilizado pelo empreendedorismo nos últimos anos, porém, nem sempre da forma correta.
A teoria da inovação disruptiva foi criada na reta final do século passado pelo professor de Harvard Clayton M. Christensen, em sua pesquisa sobre a indústria do disco rígido, popularizada com o seu livro O Dilema do Inovador, de 1997. Por lá, Christensen dizia que essa inovação acontece
“Quando uma inovação transforma um mercado ou um setor existente, introduzindo simplicidade, conveniência e acessibilidade onde complicação e alto custo são o padrão. Inicialmente, uma inovação disruptiva é formada em um nicho de mercado que pode parecer pouco atraente ou irrelevante para os operadores históricos da indústria, mas, eventualmente, com o tempo, o novo produto ou ideia acaba redefinindo completamente a indústria”.
Com isso em mente, não podemos dizer que a Gerencianet foi disruptiva na facilitação de emissão de boletos, porque, apesar de facilitar bastante a vida dos clientes, ela não era, na época, a única empresa a entregar este tipo de serviço.
Por outro lado, no contexto de uma cidade do interior, extremamente dependente da mineração, o sucesso do seu produto pode ser considerado como um grande ponto de disrupção para a economia local.
A inovação disruptiva de uma pequena economia
Extremamente dependente da mineração, a região dos inconfidentes, em Minas — região essa que engloba municípios como os de Mariana, Ouro Preto, Itabirito, Congonhas, Ouro Branco e São João Del Rey — parecia não ver outro caminho para a economia local a não ser através do turismo. E mesmo em cidades onde o turismo conseguiu ser bem presente (como Ouro Preto e Tiradentes), o setor não teve o mesmo impacto na economia que a presença das mineradoras.
Com o surgimento da Gerencianet, a cidade acabou se transformando:
- Foi criada uma lei municipal de incentivo à inovação;
- A infraestrutura de rede elétrica e de internet precisou ser ampliada e melhorada;
- Cresceu a demanda local por mão de obra qualificada em tecnologia da informação.
Hoje, a maior arrecadação de tributos de Ouro Preto, fora da mineração, vem das empresas de base tecnológica sediadas na cidade.
Mão de obra qualificada e as universidades públicas
Empresas de base tecnológica seguem, no contexto das cidades, a cartilha da inovação disruptiva ao introduzir “simplicidade, conveniência e acessibilidade onde complicação e alto custo são o padrão”. Ou seja: saem os grandes espaços do agronegócio e da indústria extrativista, com seus altíssimos impactos no meio ambiente, e entra o potencial de negócios em lugares menores, com melhores salários e menos, muito menos, poluição.
Só que para que negócios assim apareçam é preciso ter por perto um bom número de mão de obra qualificada. Algo que pode ser indicado pela presença de universidades, principalmente as públicas, nas redondezas.
Em Ouro Preto, além da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), temos por perto, em um raio de 150 km, a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), além de unidades do Instituto Federal e faculdades privadas.
Como já contamos em outro post aqui do blog, apenas a presença de alunos vindos da universidade pública não é o suficiente para cobrir as vagas das empresas de TI, mas é um bom caminho para isso, juntamente com a proximidade da capital e o fomento ao mercado interno de inovação.
A revolução tecnológica nas cidades históricas de Minas
Ouro Preto, assim como Ouro Branco, Congonhas e São João del-Rei são cidades históricas de Minas que já contam com algum tipo de lei municipal de incentivo à inovação capaz de atrair empresas de base tecnológica e fomentar o surgimento de startups.
Com o passar do tempo e o investimento em pautas ligadas à pesquisa do uso de tecnologia digital em prol da indústria criativa e do meio ambiente, veremos que até cidades do interior tem como aproveitar do melhor da inovação disruptiva já percebida na clássica Ouro Preto.
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