Startups e favelas: a tecnologia do oprimido e a inovação

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Mesmo com cerca de 8% da população brasileira vivendo hoje em áreas carentes, o fato é que ainda se ouve pouco sobre startups e favelas. E não é por menos.

Com baixa presença do Estado e gigantescos conflitos estruturais, estas comunidades têm problemas muito maiores a se pensar do que aqueles apontados apenas pelo mercado. No entanto, observar o que tem surgido, mesmo em locais tão adversos, pode apontar caminhos para o futuro do cenário de inovação digital no Brasil.   

Startups e favelas

Em 2015, um projeto chamado Gambiarra Favela Tech, idealizado por diversos nomes, incluindo os da Fundação Ford e o MIT (Massachusetts Institute of Technology), buscava encontrar “nerds” em favelas do Rio de Janeiro através de oficinas maker com aplicações de conceitos básicos de matemática e física para solucionar problemas do cotidiano.

O Favela Tech foi apenas um dos projetos que nos últimos anos tentou atrair mais pessoas de áreas carentes para o universo da produção de tecnologias digitais.

Em Belo Horizonte, por exemplo, em 2019 houve o Favela Hacklab, um projeto organizado pela Associação Arebeldia, fundada pelo músico Flávio Renegado no Alto Vera Cruz, que ofertou três oficinas voltadas à criatividade, à criação e ao empreendedorismo naquela comunidade.

Tudo isso, além do número crescente de empresas de base tecnológica brasileiras, apontava como era questão de tempo para que as startups também surgissem nos morros.

O case da Favela Brasil Xpress

Bem no meio da pandemia da COVID-19 foi quando surgiu a Favela Brasil Xpress, aquela, que se não é a primeira, é, hoje, a maior startup nascida de uma favela no país.

Criada por Givanildo Pereira, um empreendedor de apenas 21 anos, em Paraisópolis, a Favela Brasil Xpress funciona como uma espécie de centro de distribuição dentro das comunidades em parceria com as empresas de e-commerce. 

Em pouco tempo a startup recebeu o Prêmio BBM de Logística, tido como o Oscar do setor, na categoria startup. Dentre as grandes marcas que já utilizam os serviços da Favela Brasil Express podemos listar Americanas, Dafiti, Total Xpress e Via Varejo.

A inovação e a gambiarra digital

É comum que em projetos de tecnologia digital nas favelas seja utilizado o termo “gambiarra” para se referir à produção tecnológica. No entanto, aqui a gambiarra não faz — ou pelo menos não deveria fazer — referência a algo de menor qualidade ou complexidade técnica.

A gambiarra, dentro do contexto de criação das favelas, apesar de, sim, carregar o peso da precariedade, também aponta a força criativa do improviso como caminho para o conhecer, como indica o professor e pesquisador José Messias, da Universidade Federal do Maranhão.

O case da Favela Brasil Xpress não pode ser visto como uma gambiarra, porém, demonstra como o olhar do morador da favela pode apontar soluções que fazem mais sentido, em um primeiro momento, para suprir as necessidades de quem vive nestes ambientes complexos, do que para o mercado tradicional, que deixa as demandas dos oprimidos para serem priorizadas em um segundo (ou terceiro) momento.

Criando uma startup fora dos grandes centros

Assim como as favelas, as cidades do interior de pequeno e médio porte também não costumam receber a atenção da grande mídia e nem de grandes investidores no quesito inovação.

Nestes locais não existem os problemas tradicionais de mercado das capitais e sim uma proximidade com os problemas da própria população, o que demanda um olhar diferente sobre a criação de startups.

Em lugares assim, cooperativas de plataforma podem se tornar opções mais interessantes do que startups para resolver problemas através do uso da tecnologia, além, é claro, do incentivo por parte do poder público na compra ou construção de soluções locais para os problemas municipais.

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