O que é essa tal gig economy (e quais são seus prós e contras)

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O que é essa tal gig economy (e quais são seus prós e contras)

Ganhador de 3 Oscars em 2015, o interessantíssimo (e controverso) Whiplash narra a história de Andrew Neiman, um jovem que batalha para ser o melhor baterista de sua geração. Só que no caminho para isso ele acaba sofrendo nas mãos um mestre do jazz, seu professor Terence Fletcher, que ultrapassa vários limites, levando Andrew a transformar seu sonho em obsessão e a colocar sua saúde física e mental em risco.

Contando também com a excelente fotografia de Sharone Meir, Whiplash mostra (com belos closes) a luta que é se consagrar dentro de uma grande banda e de um festival de jazz. ainda que, verdade seja dita, este seja um desejo razoavelmente novo para muita gente. 

Explico: nascido da mistura da manifestação musical dos africanos com pitadas de música europeia, o jazz surge nos Estados Unidos no final do século XIX por meio dos escravos trazidos na força lá do continente africano. Daí para que brancos também começassem a se interessar pelo ritmo — como Andrew Neiman e seu professor assediador — , não foi do dia pra noite. Precisou primeiro de algumas décadas, uma Guerra Mundial e a emigração dos negros para grandes centros urbanos, como Nova York.

Com todo este cenário montado, foi um pulo para que surgisse no meio do jazz as primeiras gig bands, aquelas que eram contratadas apenas como freelas por noite de show em cada bar. 

Sim, esse é o link: é daí que vem a inspiração para o termo Gig Economy.

Gig Economy: O que é

Segundo o Dicionário de Cambridge, o termo “gig economy” diz respeito a um arranjo alternativo de emprego, mais precisamente “uma forma de trabalho baseada em pessoas que têm empregos temporários ou fazem atividades de trabalho freelancer”. É o famoso bico, só que ampliado pela internet, pela popularização dos smartphones e pelo investimento de várias empresas conhecidas.

De acordo com alguns dados publicados pela Forbes, hoje, mais de um terço dos trabalhadores dos Estados Unidos participam da Gig Economy como freelancers. São quase 60 milhões de pessoas que emprestam sua mão de obra para empresas que vão do mercado de serviços até agricultura e finanças.  

Grandes nomes da Gig Economy

Dentre as empresas mais conhecidas de Gig Economy podemos listar

Criadas fora do Brasil

  • Airbnb
  • Amazon
  • Uber
  • Udemy
  • Rappi

Criadas no Brasil

  • 99
  • DogHero
  • Hotmart
  • iFood
  • RockContent

Os prós da Gig Economy

Agora que você já sabe o que significa essa tal Gig Economy e quais marcas estão se destacando nela, é hora de saber o que leva tantos freelas a apostar nesse modo de ganhar dinheiro.

Mobilidade

Para quem deseja (e pode) ser nômade digital — aquele ou aquela profissional que trabalha quase exclusivamente pela internet e, portanto, não precisa estar presente em um escritório, cidade ou país em particular — a Gig Economy pode ser uma boa ideia, principalmente se a pessoa em particular prestar serviços de:

  • Redação
  • Tradução
  • Design
  • Desenvolvimento web
  • Fotografia
  • Vídeo
  • Gerenciamento de redes sociais

Acesso à renda

Precisando fazer uma grana a mais no mês? Então as empresas da Gig Economy também podem ajudar, seja dirigindo para o Uber depois do horário de trabalho ou fazendo algum conteúdo para a RockContent. 

Além disso, com mais de 12 milhões de desempregados no país — 11% da força de trabalho brasileira —, ter a opção de dirigir um Uber ou fazer uma entrega pelo iFood pode ser uma opção para quem não consegue encontrar algum trabalho formal.

Uma saída para os Introvertidos

Os introvertidos — aquelas pessoas que evitam o excesso de estímulos e preferem a solidão, o silêncio e a reflexão — podem ter na Gig Economy um bom caminho para conseguir desempenhar ainda melhor o seu potencial profissional, desde que consiga trabalhar exatamente na área onde se sai melhor.

Os contras da Gig Economy

Colocadas todas as características positivas da economia sob demanda, chegou o momento de ver o contraponto, o lado negativo deste sistema.

Uberização: a precarização do trabalho

Nos últimos meses o termo “uberização” esteve bastante atrelado à outro, mais conhecido no Brasil, chamado precarização do trabalho, que basicamente diz respeito a redução da remuneração, benefícios e garantias dos trabalhadores por não ter qualquer tipo de vinculação direta à empresa que utiliza sua mão-de-obra. Uma característica bastante presente nos serviços prestados pelas empresas da Gig Economy… como o Uber.

Não é por acaso que nestas empresas os prestadores de serviços são colocados como “parceiros cadastrados” e não funcionários.

Impacto negativo na saúde das pessoas (e das cidades)

A falta de garantias da Gig Economy para com a mão de obra por trás dos aplicativos, além da exagerada competitividade existente dentro dos sistemas, tem feito disparar o nível de ansiedade e até de suicídio entre os “parceiros cadastrados”. De acordo com a pós-doutoranda Ludmila Costhek Abilio, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, em uma entrevista para o site Outras Palavras, “supostamente, a pessoa trabalha onde e quando quer, mas a verdade é que ela está trabalhando cada vez mais. O que estamos estudando é como esses trabalhadores estão subordinados aos algoritmos, às regras de cobrança, às comissões e às metas de produtividade. Não me parece que as escolhas sejam tão amplas assim”.

Além de pessoas específicas, cidades inteiras também tem sofrido um impacto negativo da Gig Economy. Em 2018, uma pesquisa encomendada pela consultoria Fehr & Peers apontou como que apps como Uber e Lyft tem piorado o trânsito nas grandes cidades

No Brasil, a prefeitura de São Paulo observou que o aumento de 18% no número de mortes envolvendo motociclistas em 2018 foi diretamente influenciado pelo uso de aplicativos de entrega, como o iFood.

Forte influência na política

Por fim, é bom lembrar que a entrada de empresas da Gig Economy nas cidades muitas das vezes precisa ser facilitada pelas leis municipais, nem sempre preparadas para as novidades tecnológicas. Por isso existe um gigantesco movimento das marcas, por meio de lobby com políticos, para aprovar os início de suas operações em um determinado local.

Em alguns pontos esse movimento pode ser visto como sendo interessante para a população, no entanto, este lobby também pode facilitar a ocorrência de caixa dois e ser usado para reduzir a fiscalização em cima dessas empresas

Consertando os defeitos da economia dos bicos

Com estes pequenos e rápidos computadores de bolso que carregamos (e chamamos de smartphones), era de se imaginar que em pouco tempo estaríamos realmente livres para aproveitar mais a vida — afinal, se a tecnologia otimizou o nosso dia a dia, para onde foi o tempo economizado durante a semana? —  ou até ganhar algum dinheiro alugando nossos bens não utilizados. 

O lado ruim é que isso ainda não aconteceu. O lado bom é que ainda é possível consertar os problemas da Gig Economy. 

Existem vários movimentos ao redor do globo apontando como tirar proveito da tecnologia que temos para de fato termos trabalhos de qualidade por meio desse tipo de economia. 

Cooperativismo de plataforma

Sistemas como os do Uber e iFood já apontaram que existe uma enorme demanda por serviços que facilitem a vida das pessoas, no entanto, não passam nem longe de deixar cômoda a vida de seus parceiros. Por isso o cooperativismo de plataforma pode ser tão interessante.

Criada por Trebor Scholz, autor e professor da New School, a ideia do cooperativismo de plataforma vem sendo elogiada por vários outros pesquisadores e defensores por ser uma alternativa ética à Gig Economy. Funciona assim: em vez de Uber e Lyft, por exemplo, uma cooperativa de carona compartilhada com trabalhadores poderia levar pessoas pelas cidades (lugares como Austin, Londres e Denver já estão experimentando esse modelo).

Legislação

Depois de ser palco do primeiro acidente fatal motivado pela condução de um patinete elétrico no Brasil, a cidade de Belo Horizonte precisou criar, através da BHTRANS, um grupo de trabalho que iria elaborar a regulamentação da circulação de patins elétricos, como os da Yellow, dentro do município. Este acidente mostra claramente a importância de se pensar em leis que entendam melhor o funcionamento de determinadas tecnologias.

Já na Califórnia, nos Estados Unidos, o Senado aprovou um projeto de lei que obriga empresas digitais de transporte, como o Uber, a ter funcionários contratados com registros – proibindo os trabalhadores temporários ou freelancers. Por conta disso, todos os seus “parceiros cadastrados” agora seriam vistos como funcionários no registro de pagamento, como é feito tradicionalmente com empresas de táxi.

Jazz-economy

Assim como acontecia com as Jazz bands do começo do século passado, os trabalhadores freelancers em sua maioria, hoje, continuam preferindo ter do que não ter um contrato (mesmo os freelas que operam no modelo home office). Lembre-se que o sonho de todo músico, no final, é ter um belo acordo, seja com uma gravadora ou com uma produtora.

Poder tocar onde e quando quiser é ótimo, mas saber que haverá shows nos próximos dias é ainda melhor. É isso que verdadeiramente facilita a vida das pessoas e faz com que elas se sintam energizadas para entregar o seu trabalho bem feito: segurança. 

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