
O Lean manufacturing é um dos modelos mais difundidos para aumentar a eficiência e a lucratividade nas empresas. Ao eliminar desperdícios e otimizar processos, essa abordagem tem sido amplamente adotada por organizações que buscam operar de forma mais enxuta e previsível. No entanto, à medida que a inovação se torna um fator crítico para a competitividade, surge um dilema: será que a rigidez e a padronização do Lean podem sufocar a criatividade necessária para inovar?
Neste texto, vamos explorar como o modelo Lean manufacturing impacta a capacidade de inovação nas empresas, os desafios que isso impõe e as possíveis estratégias para equilibrar eficiência e renovação.
O que é Lean manufacturing
A filosofia do Lean manufacturing (Fabricação enxuta) teve origem na Toyota nos anos 1950, mas o termo foi definido pela primeira vez no livro The Machine That Changed the World, baseado em um estudo do MIT sobre a indústria automotiva.
O Lean foi influenciado por práticas anteriores, como a gestão da qualidade total (TQM) e a produção just-in-time (JIT), priorizando a fabricação de produtos de alta qualidade a baixo custo e conforme a demanda.
Desenvolvido por Taiichi Ohno, na Toyota, o Lean começou na fabricação de motores automotivos, expandiu-se para a montagem de veículos e, posteriormente, para toda a cadeia de suprimentos da empresa.
Seus princípios incluem identificar o valor para o cliente, mapear fluxos de valor, desenvolver produção contínua e sistemas puxados, além de eliminar desperdícios.
Os três principais objetivos do Lean são:
- Melhorar o fluxo do sistema.
- Incluir apenas etapas que agregam valor.
- Eliminar todo muda (desperdício).
Inovação e risco
A inovação é essencial para o sucesso dos negócios e para o crescimento econômico.

Em geral, ela envolve a implementação, institucionalização e comercialização de novas ideias criativas. É aqui que mora os desafios para se implementar o modelo Lean manufacturing em empresas que buscam ser ao mesmo tempo inovadoras, mas isso eu vou abordar posteriormente.
Segundo Abernathy e Clark (autores do clássico paper “Innovation: Mapping the winds of creative destruction”), a inovação comercial pode ser classificada em quatro tipos:
- Inovação Arquitetural: Redefine a estrutura e o design básico de produtos e processos, criando novas configurações para a indústria e tornando tecnologias e mercados anteriores obsoletos.
- Inovação Revolucionária: Introduz uma nova tecnologia que substitui a existente, mas mantém o mesmo mercado e público, como no caso das carrocerias de aço em automóveis.
- Inovação Regular: Incremental, melhora designs ou processos já existentes para fortalecer a competitividade de uma empresa.
- Criação de Nicho de Mercado: Atende a novas demandas emergentes, ajustando tecnologias existentes e criando novas oportunidades de mercado.
Todas essas formas de inovação são fundamentais para o sucesso organizacional e a evolução da indústria, sendo aplicadas conforme a fase do sistema vigente.
A questão aqui para o texto é que o modelo Lean necessariamente funciona como uma força contrária à inovação, que só acontece com adoção de riscos e incertezas.
O formato Lean manufacturing fomenta a lucratividade certa, mas pode impedir a inovação da empresa
No centro da filosofia Lean, “valor” é definido pela perspectiva do cliente, considerando custo, funcionalidades do produto, entre outros fatores. O Lean opera em dois níveis:
- Estratégico: compreende o valor para o cliente.
- Operacional: atende às exigências dos clientes por meio de técnicas de produção enxuta.
A padronização é essencial no Lean, pois define a sequência das tarefas, reduz a variabilidade e aumenta a visibilidade dos processos.
Além disso, o design enxuto combina padronização, engenharia simultânea, design para manufatura (DFM) e análise de valor. Seu objetivo é reutilizar componentes e garantir que os projetos finais sejam compatíveis com processos já existentes, maximizando o uso dos recursos da empresa.
Diversas pesquisas ao longo das últimas décadas analisaram o impacto das práticas Lean na competitividade organizacional em algumas indústrias.
Nos casos com resultados negativos, o Lean reduziu a inovação, pois o foco em melhorias incrementais e eficiência operacional eliminou processos experimentais e arriscados. No entanto, algumas empresas conseguiram equilibrar o Lean com inovação ao evitar uma padronização extrema, garantindo vantagem competitiva no design de produtos.
Pesquisadores já observaram, inclusive, que, no Sistema Toyota de Produção, o foco na eliminação de desperdícios levou à terceirização do design de novos produtos, reduzindo a inovação interna.
Além disso, a ênfase no benchmarking e na padronização restringe a criatividade dos engenheiros, dificultando ideias inovadoras.
Regra de ouro: não se engane
Apesar de não ser um termo recente, o Lean manufacturing ainda é bastante comentado e procurado por empresas e diretores em busca de aumentar a sua lucratividade, muitas das vezes melhorando a performance do seu negócio.
Só que inovação também é outro termo bastante difundido e procurado no meio do empreendedorismo, apesar de não ser nativo deste segmento.
Querer as duas coisas ao mesmo tempo pode ser um problema.
Como sabemos e apontamos por aqui, inovação requer a tomada de riscos, que necessariamente vão contra o padrão de lucro da maioria das empresas.
Portanto, a regra de ouro é: não se engane. Se a sua empresa não tem o DNA inovador e não está pronta para se arriscar, não tente buscar inovação em um modelo Lean manufacturing de negócios.
No entanto, se hoje o seu negócio depende de inovar para se manter no mercado, talvez seja a hora começar uma transição entre uma metodologia mais rígida e outra mais flexível, mas, que pode trazer bons benefícios a médio prazo.