
Embora represente menos de ¼ do PIB nacional, a mineração exerce grande influência na economia e no cotidiano de algumas das principais cidades de Minas Gerais.
Mariana, por exemplo, berço do estado, obtém mais de 80% de sua arrecadação da indústria extrativista, seja de forma direta ou indireta.
Contudo, após os desastres causados pelo rompimento da Barragem de Fundão (2015) e da Mina do Córrego do Feijão (2019), além do encerramento das operações da Vale em Itabira após 80 anos de exploração, a diversificação econômica tornou-se um dos temas centrais para a região do Quadrilátero Ferrífero.
Essa discussão, como demonstram diversas pesquisas, está diretamente ligada à inovação, à economia criativa e ao setor tecnológico.
O que é diversificação econômica?
A diversificação econômica refere-se à ampliação das fontes de receita de uma determinada localidade. Quanto menos dependente um município for de um único setor, mais equilibrado e resiliente será seu desenvolvimento.
Esse é um dos desafios enfrentados pelas cidades com forte presença da mineração.
De acordo com o estudo Equidade intergeracional na partilha dos benefícios dos recursos minerais: a alternativa dos Fundos de Mineração, da economista Maria Amélia Rodrigues da Silva, a exploração mineral ocorre onde há jazidas, atraindo empresas do setor e impactando profundamente a estrutura socioeconômica dessas regiões.
A autora questiona se a intensa atividade minerária nesses municípios configura uma “maldição”, marcada por estagnação econômica, desigualdade social e esgotamento dos recursos naturais, ou uma “dádiva”, capaz de promover crescimento sustentável.
A pesquisa conclui que a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) representa uma importante fonte de arrecadação para esses municípios. No entanto, sua administração eficaz é essencial para evitar a dependência fiscal e possibilitar uma economia mais diversificada, garantindo maior resiliência diante de crises.
O papel da inovação na transformação econômica
Um dos poucos exemplos globais de sucesso na diversificação econômica de uma cidade mineradora é Pittsburgh, que utilizou a inovação para criar novas oportunidades de trabalho.
Esse processo envolveu políticas que aproveitaram a expertise e o conhecimento técnico do setor metalúrgico para fomentar um cluster de fornecedores, especialmente na área de tecnologia para a indústria do aço.
No contexto do Quadrilátero Ferrífero, soluções semelhantes podem ser adotadas, ainda que por caminhos distintos.
Inovação além do setor de tecnologia
Toda cidade mineradora possui, em maior ou menor grau, outros segmentos econômicos relevantes.
Itabirito se destaca na agropecuária e na indústria alimentícia, Ouro Preto no turismo, Santa Bárbara na produção agrícola e Mariana na agricultura familiar.
Para que esses setores se tornem alternativas viáveis à mineração, é fundamental incorporar inovação em seus processos. Isso exige mais do que pesquisa — já presente na região por meio de universidades e institutos federais —, mas também estratégias criativas que identifiquem oportunidades de aplicação tecnológica de maneira lucrativa e diferenciada.

O impacto na moradia
Outro desafio associado à dependência da mineração é o impacto no setor imobiliário.
Como já apontado em análises anteriores, em períodos de intensa atividade minerária, a evasão de estudantes pode atingir até 91% em cidades como Mariana, devido à especulação imobiliária impulsionada pelo setor extrativista.
Para se ter uma ideia, os aluguéis em Mariana saltaram de R$1.300 para R$4.000 em alguns casos, tornando a permanência de estudantes, pesquisadores, pequenos empresários e agentes culturais extremamente difícil.
Não à toa, empresas de tecnologia locais, que operam com trabalho remoto, relatam que muitos funcionários têm optado por se mudar para cidades com custo de vida mais acessível.
Empresas de tecnologia como solução
A criação e atração de empresas tecnológicas pode ser um caminho para minimizar os efeitos negativos do alto custo de vida.
Com salários mais altos e a possibilidade do trabalho remoto, essas empresas podem ajudar a equilibrar o impacto da especulação imobiliária. Além disso, negócios de base tecnológica demandam menos espaço físico do que indústrias tradicionais, sendo compatíveis com a infraestrutura de cidades menores.
Outro fator relevante é que esse tipo de empresa tende a empregar uma força de trabalho jovem e qualificada, ao mesmo tempo em que contribui para a arrecadação municipal, como já ocorre em Ouro Preto.
A grande questão que se impõe é: quais cidades do Quadrilátero Ferrífero estão realmente adotando estratégias eficazes de diversificação econômica, indo além do empreendedorismo superficial e garantindo resultados consistentes para os próximos anos?
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