O que são distritos criativos e quais são os principais de Minas

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Show da banda Remobília em Ouro Preto

Distritos Criativos são regiões que se desenvolvem econômica e culturalmente por meio da chamada economia criativa. No entanto, apesar de hoje termos diversos exemplos de territórios com esse título, até bem pouco tempo atrás nada disso existia.

Foi somente a partir do declínio do fordismo, daquele modelo antigo de industrialização, e da expansão da globalização, ali no final da década de 1970, que a economia criativa ganhou a forma como conhecemos hoje, dando espaço para o surgimento dos primeiros distritos criativos na Inglaterra.

No entanto, para sabermos um pouco mais sobre esses distritos e sua força para a economia, precisamos entender um pouco mais sobre uma outra teoria: a dos clusters.

Clusters: a teoria por trás de territórios criativos

No começo dos anos 1990, o professor Michael Eugene Porter, da Harvard Business School, publicou um trabalho que viria a ser um clássico do desenvolvimento econômico: The Competitive Advantage of Nations, onde foi introduzido o termo cluster. 

Cluster é um comportamento paradoxal de empresas que se instalam próximas umas das outras a fim de se interligar e, com isso, encontrar vantagens competitivas no ambiente de negócios globalizado.

Essa ideia dos clusters não é de todo nova, sendo uma repaginada do clássico conceito de aglomeração (ou concentração industrial), pensado por Alfred Marshall, no final do século XIX, em seu livro Principles of Economics.

Com isso em mente, podemos dizer que distritos criativos nada mais são do que clusters capazes de, através da criatividade, fomentar o turismo, fortalecer e dar sustentabilidade financeira para a produção cultural de um determinado local.

Os principais distritos criativos de Minas Gerais

Em Minas Gerais temos diversos exemplos de distritos que souberam tanto aproveitar suas demandas turísticas quanto fomentar sua indústria cultural para tornar a economia do território mais resistente.

Aqui vão alguns dos principais cases de sucesso.

Bichinho

Casa Torta: o café, teatro, lojinha e bistrô de Bichinho — Crédito: Viajei Bonito

Cravado ao lado da cidade de Tiradentes, o distrito de Vitoriano Veloso, mais conhecido como Bichinho, faz parte do território do município de Prados e conta com pouco mais de 1000 habitantes.

Mas, não se engane com seu tamanho e seu nome: apesar de pequeno, esse distrito tem uma das maiores concentrações de empresas de artesanato da região histórica de Minas, contando com mais de 40 ateliês e mais de 400 pessoas empregadas nessa profissão, responsáveis por impactar positivamente parte do setor turístico do território.

Monte Verde

O charme europeu de Monte Verde — Crédito: Viajando na janela

Formado por uma mistura de habitantes brasileiros e imigrantes da Letônia, Hungria, Suíça, Alemanha, Rússia e Itália, o distrito de Monte Verde, em Camanducaia, no Sul de Minas, foi, de acordo com dados do Ministério do Turismo, um dos destinos mais procurados por turistas no Estado nos últimos anos. E não é por menos.

Ao harmonizar o clima frio da região com a história da imigração europeia através da culinária tradicional, Monte Verde se tornou um verdadeiro distrito criativo da gastronomia, apresentando pratos típicos de regiões da Europa e inovando nas opções já conhecidas da cozinha mineira.

Conceição do Ibitipoca

Festival Ibitipoca Blues e a economia criativa de Conceição do Ibitipoca

Apesar da cidade de Lima Duarte, berço do distrito de Conceição do Ibitipoca, ter seus mais de 140 anos, não é errado dizer que o turismo só começou a se tornar uma das principais bases da economia local a partir de julho de 1973, com a instalação do Parque Estadual do Ibitipoca.

Hoje, o parque recebe cerca de 77 mil turistas por ano, que, além de demandar uma série de serviços das cidades próximas, acabou fomentando em Conceição do Ibitipoca uma pequena indústria criativa da música, com shows de blues e jazz capazes de entregar novas experiências para os eco-turistas que passam e se hospedam na região.

Noiva do Cordeiro

Com uma das histórias mais interessantes de Minas Gerais (e do Brasil), o distrito de Noiva do Cordeiro pode ser melhor apresentado por Lívia Reginato David Viana, autora do livro NOIVA DO CORDEIRO: A história da família que superou 100 anos de isolamento social com o amor da vida comunitária e a partilha da terra.

A origem da comunidade Noiva Cordeiro (Belo Vale – MG) data da virada do século XIX para o século XX, quando uma jovem senhora, Maria Senhorinha de Lima, abandonou um casamento arranjado e fugiu com seu amante Francisco Fernandes, ou seja, um adultério no Brasil rural do final no final do século XIX.

Para os povoados vizinhos, o casal e seus nove filhos eram fruto do pecado, e por isso suas mulheres seriam “livres demais”, adúlteras e até mesmo consideradas prostitutas. Este estigma e exclusão social perdurou gerações, os obrigando a viver em isolamento.

Nos anos 50, uma nova fase começou na comunidade. Delina, com apenas 16 anos, uma das netas de Maria Senhorinha, casou-se com um pastor evangélico chamado Anísio Pereira com então 43 anos. Desta união resultaram 15 filhos. O pastor convencido que nenhuma religião era satisfatória, criou sua própria versão do evangelismo batista com preceitos muitos rígidos para todos. Não era permitido cortar os cabelos, usar mangas curtas ou passar maquiagem. 

Também eram dedicadas muitas horas diárias à oração, principalmente para os homens que ficaram impedidos de trabalhar. Até mesmo a música era proibida na comunidade. Assim, os descendentes de Maria Senhorinha, que já eram estigmatizados por serem fruto de um adultério, passaram a ser estigmatizados também por serem evangélicos, em uma região majoritariamente cristã.

Esta fase durou até o ano de 1991 quando houve uma reunião em que a comunidade, liderada por Delina decidiu abandonar a igreja. Um evento que marcou simbolicamente o fim da igreja foi o casamento de uma das filhas de Delina e Anísio que pela primeira vez teve música que não era da igreja e as pessoas dançaram e muitos jovens ouviram música pela primeira vez.

Este ocorrido, somou-se a insatisfação com a igreja local ao longo dos anos e levou os moradores a se reunirem com o pastor e decidirem não viver mais daquele modo. O local da antiga igreja foi transformado em um bar e as rígidas regras sobre a aparência e modo de vestir foram deixadas de lado.

Mini documentário da Assembleia de Minas Gerais sobre a comunidade

Com forte pegada da agricultura familiar e das artes, hoje, Noiva do Cordeiro é um dos distritos criativos mais interessantes de Minas Gerais. 

Santo Antônio do Leite

Igreja Matriz de Santo Antônio do Leite

Com pouco mais de 1700 moradores, o distrito de Santo Antônio do Leite, em Ouro Preto, surge de duas mudanças quanto ao pensamento tradicional da região: formado em sua maioria por pessoas que tinha uma visão contra a mineração (ainda no século XIX), Leite, como é conhecido, abraçou outra quebra do status quo na década de 1980, quando viu surgir algumas comunidades hippie em sua área rural.

Atraídos pelos primeiros festivais de inverno de Ouro Preto, os hippies que resolveram morar em Santo Antônio do Leite impactaram na cultura local, principalmente em sua já estabelecida produção de joias, trazendo novos caminhos para o design desse produto.

Hoje, Santo Antônio do Leite é um verdadeiro distrito criativo do design, da gastronomia e das artes.

Transformação digital para os distritos

Sabendo do potencial dos distritos criativos, tanto para a economia quanto para a transformação social de moradores de regiões mais afastadas, o Vale dos Inconfidentes atua em Ouro Preto e Mariana no fomento à transformação digital de distritos, fazendo com que a população tenha mais oportunidades para viver da sua criatividade, ampliando seu potencial de venda e sua capacidade de profissionalização.

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